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quinta-feira, 28 de abril de 2011

Amor sem Sermão

Enquanto penso e julgo não creio;

Se eu crer superficialmente, refreio;
Ao refrear meus instintos, contenho
O sentimento/sensação que detenho!

É claro que não sabes isso o que é
E alardeias ser amor esse seu rapé
Que os adultos cheiram e rejeitam
Em dias marcados, sentir não voltam!

Amor sente-se, e é um sentimento
Amar é sentir esse sentimento
Em si e para si, e, com nobreza,
Inspira e expira a sua natureza

A natureza do amor é um tanto
Simples, sincera e forte, no entanto;
O amor realiza-se sem lamento,
E não se iliba de mau momento

Vive-se o amor sem arrependimento!
Arrepende-se de certa falta de alimento
Ao amor, consumado na indevida altura,
Para efeito de dispensar sua captura!

Ninguém dispensa o amor, captura-o,
No âmago de um trama urdido, fura-o
E lá encontra o essencial de seus ensejos
Que faltava assimilar, saber viver desejos!

O amor assimila-se e acomoda-se nele
Intelectualmente percebido como aquele
Que se vive de corpo, espírito e alma,
De pureza satisfação de quem se ama!

Aceita-se o amor a qualquer altura;
Ninguém se afasta do amor que dura
Em função do tempo do amor vivido,
Mas, em função do amor no tempo vivido!

Ser profundamente amado por alguém
Dá força e não a tira de ninguém!
Amar alguém, profundamente, dá coragem
Se for correspondido sem muita miragem!

Amália Faustino Mendes, 28 de Abril de 2011

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Homenagem, Mãe


Eu te homenageio, nesta data
Recordando-te pelo que resta,
Mimando as lembranças tuas,
Engolindo as dores e as mágoas
Lançadas aqui, neste meu peito
Infiltradas de qualquer jeito,
Num coração despedaçado,
Desgostado e muito cansado,
Antes nostálgico e melancólico.

Sumiram com a tua presença
Esconderam-te sem minha avença
Mal entrei naquela melancolia
Estonteante, à minha revelia,
Deram-te o sinal de partida
Ordenando a tua urgente saída!

Foste sempre medrosa e cobarde;
Ultimamente, temias à vara verde
Ruidosamente estremecida, suando,
Triturando palavras, cambaleando
Ao tentar recuar das consequências
De qualquer ajuste de flatulências,
Onde a morte resolveria decidir: já!

terça-feira, 26 de abril de 2011

Mãe

Eu e tu, neste mundo, fomos as únicas!

Eu sou a única filha e não usava túnicas
Eu fui aquela que nas tuas belas túnicas
Enfiava meus bracinhos finos como o fio
Enroscava-me nelas, deixando de fora o frio
Estatelava, com elas, no chão de terra bufa,
Esgaravatando impregnadas marcas de rufa
Escondidas nas pregas das bainhas de renda.
====
Esqueço-me nunca e das brincadeiras, não!!!
Escondias, no pano bento na missa, o pão
E fazias-me surpresas de outros guloseimas,
Emendando um sorriso maroto de damas,
Esticavas-me teu braço com carinho de mãe
E dizias-me: advinhas o que te trouxe a mãe?
E não respondia, ao apartar-te os dedos
Extorquindo das tuas mãos os conteúdos!
======
Enfatizo as recordações infantis inesquecíveis,
Ensaboando com elas as melancolias resistíveis,
Engalanando profundas apunhaladas actualizadas
Em tempos coincidentes de dores desmedidas,
E hoje, triste ou alegre, nós as duas resignadas.
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Uma estranha forma de amar


Com esta postura amorfa, a meta
Onde esta perfurou com a seta,
Sorveu gotas de algum percurso
Mediocrizado em jeito de urso,
Exibiu já seus estranhos amores…

Por ter uma estranha forma de amar
Apercebe-se aquele anti-amor a soar
Um falso sentimento, com objectivos
Ludibriados, ancorados em labirintos,
Ocultando teu jeito de abater alvos.

Amália Faustino Mendes, 26 de Abril de 2011

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Uma liberdade por ano?

Cada ano que chega, um toque,

Uma nota, um dó e ré diferentes,
Tendo em comum “viva” e porque,
Todos a querem e dela são carentes.

É “viva” a liberdade, viva a safra,
E assim, escrevendo a palavra
Que assim se lê e não se vive
Na plenitude do que se revive.

A liberdade conquistada era
Para ser vivida em toda a era
Por todos, na sua total extensão,
Não só para conter a expansão.

Sendo a liberdade conquistável,
Ser livre é ser afável, mas estável
Agradável sem ser exagerado,
Com ou sem reflexo condicionado.

Eu vivo privilegiando ser livre,
Lutando ao longo de todo o ano
Para que a liberdade perfaça ano,
E seja uma liberdade de calibre.

Quero liberdade que se concede
Mas uma liberdade que não cede
A tirania antecedente da liberdade,
Bloqueadora e asfixiante da felicidade

Boa é uma liberdade sem aniversários,
Melhor é a liberdade sem adversários,
Óptimo é ser livre sem excesso
E ser a favor da paz e do progresso!

Amália Faustino Mendes, 25 de Abril de 2011

Voo uma vez por ano

Nada mau para mim

Que nem sou o jasmim
Visitado por ti, hoje
Meu tristinho monge!
Sou um passarinho,
Hoje fora do ninho
De asas em leque
Sobre um palanque.
Não posso voltar aqui
Antes de doze meses
Ou nunca, sem croqui.
Abrigo-me nestas bases
Nesta gaiola e aqui…
Mas cá viria cem vezes,
Se voltasse a ver o que vi.
Como é bom voar e tudo ver
É bom estar livre e tudo ser
Ferro de calibre, de poder
E fogo não consegue derreter!

Uma vez por ano

Cada ano que chega, um toque,
Uma nota, um dó e ré diferentes,
Tendo em comum “viva” e porque!
Viva a liberdade, viva a safra,
E assim, escrevendo a palavra
Que assim se lê e não se vive
Na plenitude do que se revive.
A liberdade conquistada era
Para ser vivida em toda a era
Em toda a sua extensão
Não só ao conter a expansão.
Sendo a liberdade conquistável
Ser livre é ser afável, mas estável
Agradável e não exagerado,
Com reflexo condicionado
Te sentes, privilegiando ser livre,
Lutando ao longo de todo o ano
E assim a liberdade perfaz um ano.
Há liberdade que se concede
Há liberdade que não cede
Prefira esta e conquista-a
Preserva-a, limita-a, reserva-a.
Com tudo a doer e a remar
Fico aqui, contando…
Dias, noites, tudo

domingo, 24 de abril de 2011

A nossa terra – Cabo Verde

Fala-se de terra nossa, aquela que nossa é

E cuja pertença nos é, só em certo sentido,
Enquanto resiste sob a pressão do nosso pé
Durante certos intervalos de tempo repetido!

Se prefiro considerar como minha terra,
Este arquipélago de dez ilhas vai da serra
Malagueta, Pico d’Antónia e ao do Fogo,
Onde o lume pela natureza é pego e pago.

Se a pressão dos pés foge à força do cume,
Pelo cume, o vulcão fura e lança lavas
Tal como certos políticos expelem volume,
Quando tecem armadilhas em ondas cavas.

Só a natureza tem a força suficiente,
Para acender o fogo do vulcão que apaga,
Enquanto a população pouco ciente,
Ignora e teima face ao sinal que a afaga.

Sinais evidentes surgem, antecedem
A erupção vulcânica, como a vitória
E a derrota nas eleições, vencem
Ou apagam até a própria memória.

O Passado e o presente de mãos dadas
Como se fossem iguais em tudo bem,
Ou, de tudo o mal irrompe às marteladas,
Batidas em cabeças onde todos cabem!

Tem sido assim ao longo de muitos anos,
O igual e o diferente em paralelo andam,
Assobiando pela boca de alguns fulanos,
Ocultando palavras barbantes de Sadam!


Amália Faustino Mendes, 11 de Dezembro de 2010.

Mundo sem lágrimas



Nasci no alto de um outeiro
Cresci com a família Monteiro,
Vivi no meio de companheiros,
Num campo de dragoeiros!

Eu era um poço de utilidade
Meus parentes, com probidade
Fizeram-me horta de felicidades
Onde semearam honestidades!

Criei e cultivei a minha família
Onde ninguém era feliz à revelia
De o outro ficar em lamento,
Pela infelicidade em detrimento!

Ninguém é verdadeiramente feliz
Ante outro gerador da infelicidade,
O próximo, um espelho que prediz
E reflete o outro em conformidade!

E hoje que já não sou nem estou
Expetante - o mundo diversificou,
Paradoxos, Interesses, desinteresses,
Idealizados em abundantes impasses.

E gora, já de partida, serei levada,
Experimento uma levada alterada
Absurdos, incongruências, desapegos,
Males, apertos, numa família de inimigos.

Neste exacto momento, resta-me ir
Antes que o coração chore a partir,
Ou venha a bramir se pouco muda
Num mundo indisposto, sem ajuda!

Amália Faustino Mendes, 24 de Abril de 2011.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Venho de uma outra galáxia

Venho de uma outra galáxia
Investigar toda a imprudência
Negativas práticas de vivência
Transferidas de planetas avivas
E fotografar alterações sem vivas
Eh, pá! Recolhe imagens à toa?
Devo observar suas atitudes,
Os comportamentos amiúdes
Identificando erros de virtudes,
Sedimentados até suas pevides!
Dou-lhe depois seus feitos em fotos
Enquanto inconscientes e não castos!
Anda daí com as fotos fotografadas
Bem vinda à solução de más fadas
Rifando este planeta já bem sombrio,
Incluído no processo de holocausto
Legitimamente penalizado a frio …
Despedaçada, esburacada, fendida
Insalubre, árida e ainda sobreaquecida
A Terra sacode um tanto aborrecida!
Dilúvio vem e pretende apagar o fogo,
Abraça a terra a salvar entes a rogo.
Torrencialmente chove a cântaros
Em todo o planeta, poder em púcaros,
Raivoso, explode e incomoda o mundo,
Riqueza reduz ou risonha lá no fundo
Antes de perecer a nenhum refundo!
Amália Faustino Mendes, 22 de Abril de 2011.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Um jeito especial de ser

U - Uma vez seria suficiente

M - Mas não foste eficiente

J- Jogaste com muita manha
E - Esbaforindo tua certa sanha
I - Interesses ainda obscuros
T - Testariam postes escuros
O - Ostracismo dos imprudentes!

E - Expectativa bem defraudada
S - Sumidas estratégias de trancada
P - Pressurizam jogos que perdes
E - E valentes não são cobardes
C – Cientes dessa natureza tua
I - Investida de arrogância nua
A - Alternam demais a sua postura
L - Logras tu só descompostura!

D – Domas agora o ego e a língua
E – Exibes logo a altivez contígua!

S – Sarcástica intenção se lê
E – Em cada sorriso teu se vê
R – Rotulados o teu estar e teu ser.
Amália Faustino Mendes, 21 de Abril de 2011

Feliz Páscoa

F - Façanhas transmissíveis
E - Eternamente inesquecíveis
L - Lapidadas na humanidade
I - Interiorizadas com felicidade
Z - Zingradas ,outrora, sem piedade!
P - Proezas referidas até ainda
A - Ação misericordiosa infinda
S - Sem vaidade, com visibilidade
C - Cristo quis a nossa felicidade
O - Ostentando sofrimento aceite
A - Antes da morte, tortura e açoite.
Amália Faustino Mendes, 21 de Abril de 2011

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Nada a qualquer tempo




Toda a carne é como a erva;
Nenhuma se identifica ao mineral,
Nem a da mais valorosa serva
Permanece em ouro no beiral.

Seca-se a erva e cai a sua flor;
A carne imobiliza-se a fundo,
Desfazendo-se no meio da dor
E da insensibilidade do mundo.

A queda da flor leva o fruto,
Em embrião ainda asfixiado,
E o feto, numa luta em bruto,
Vê-se no relevo do ventre esfriado.

Qualquer delas à terra retorna
Sem se confundir com a pedra
De dimensão arrojada que a orna,
Forrada de cetim cor de cidra.

Pressentida a afluência da efemeridade
Da carne, da erva (da vida) no mundo,
Impõe-se a formatação da perenidade
Pressurizando a consciência a fundo.

Amália Faustino Mendes, 8 de Novembro de 2010

Festa de cinzas ou carnaval?



Chegou o carnaval e com ele a folia e o excesso da comida adoptada pelos ilhéus cabo-verdianos.
O meu país fica dividido nessas duas facetas: grupos que mais aderem ao excesso, dentro da cultura, e grupos que mais apreciam a diversidade da cor dos alimentos a ingerir.
Se por um lado no barlavento (as ilhas do norte de Cabo Verde) sua gente opta por organizar grupos carnavalescos bem arquitectados que ensaiam e saem às ruas, sarracoteando nus, semi-nus e excedidamente bem vestidos, no sotavento, onde, também, já se nota a opção pelo festejo do carnaval, devido à facilidade de entrosamento entre as pessoas de diversas ilhas na capital do país em Santiago, onde estou, a adesão à fartura é ainda a dominante. Os mercados de comida ostentam alimentos doces e salgados e verduras de todos os tons, sem deixar de fora convites do vermelho dos tomates e laranja das laranjas e cenouras. Peixes secos, de um salgado exagerado, exalam a metros de distância. O açúcar, retornado das grandes panelas, são trazidos com o nome de mel de cana, cujas gotas participantes não passam de uma dezena. No entanto é "mel de cana" para pôr com cuscus. Ouço as mulheres que o vendem a pregoar: "nha kumpra! Nha toma prova li". E a vendedeira lança, numa colher, umas gotas castanhas que diz ser o melhor mel do ano. Ao lado dela, tantas outras a competirem por melhor venda, cada qual com os melhores slogans.
Noutras partes do mercado, pessoas roçam em mim, porque têm que passar também, a vender ou a comprar. Eis que sinto umas que me dão cotoveladas a solicitar "nha cumpra salsa, sta fresku!"; "nha leba Koentro, sta baratu!" "Nha bai ku mi, pa nha kumpra-m pexi, n tene atum gordo, txitxarru fresku, garoupa baratu, serra salgado..."; "hey, nha fregueza! Oji nha ka ta nogôsia ku mi? Nha odja kôvi nobu, banana verde ku madur... "
É comigo que ele vai negociar, porque tenho xerém e farinha de milho, leite de vaca dormido e essas coisas próprias para a festa de Cinza. A minha prima aqui tem o melhor mel, feito de cana de açúcar e não de açúcar refinado queimado.
No entanto, eu já tinha comprado muita coisa. Os sacos cheios já pesam e a coluna vertebral verga de um lado e doutro. E era como se eu tivesse uma casa de gente para fartar. Que cisma! Estou sozinha em casa!!!

E não é só da fartura que se vive no dia de cinzas,. As próprias cinzas resultantes da queimada de folhas de coqueiro utilizadas e abençoadas na missa de domingo de ramos do ano anterior são cruzadas na testa de cada católico presente na missa de quarta feira - o dia de Cinzas - em todas as igrejas e capelas.

E eu que assisti a missa no pátio da capela de S. Filipe, pude constatar um discurso ecuménico bastante agressivo, cheio de teoria que se opunha a práticas de exagero a todo o custo nos primeiros dias de quaresma. Era um discurso apelativo bem forte que interpelava os fiéis da igreja católica a reflectirem sobre a desnecesidade de esbanjamento em comida e dinheiro, em detrimento de sua partilha com o próximo.
 
À semelhança do que se faz para tomar a hóstia da comunhão, as pessoas punham-se em fila indiana e dirigiam-se ao pároco. Uma diferença é que so deve comer a hóstia, quem tivesse s limpado dos pecados, através da confissão. E para receber a cruz de cinzas na testa, bastava chegar perto do pároco que a colocava.  E lembro-me de ter visto levantar do banco homens, mulheres e crianças dos seus assentos e momentos depois regressavam a eles com uma cruz preta de espessura do dedo do padre.
Resolvi ir também colocar a marca na testa. Era a marca de presença na missa, mas representava o acordo com a igreja, aceitando consumir menos e em alimentação, gastar pouco, em relação a outros anteriores dias. O mais importante de tudo era partilhar com o próximo a parte do que se propõe não gastar.

Amália Faustino Mendes

Nós e o tempo II



Nos tempos em que se temporiza, gasta-se tempo,
Ordenando o tempo do temporal contável no tempo
Sem temperança de neo templários a operar no tempo
E temporariamente, vem a temporada prejudicial ao tempo,
Ostentar, no seu tempo de antena, as mazelas do tempo.
Tempo é mais valioso do que o dinheiro desse tempo
É melhor reconhecer que uma vez gasto o tempo
Mais não se pode reivindicar a volta desse tempo,
Por ser irreversível a utilização do consumido tempo;
O temporizador é que não recua a evolução do tempo!
Amália Faustino Mendes, 14 de Abril de 2011.

Nós e o tempo I



Normalmente, a tempo, não se reflecte o tempo
Óbito, enquanto tempo final, temporário, sai do tempo
Sabendo que qualquer tempo é tempo só por ser tempo.
E o tempo, dádiva superior, temporiza-se no tempo!
O tempo é tão precioso e valioso só ao longo do tempo!
Teme-se as dores da têmpera, na futura face do tempo,
Enquanto rola a tempestade típica desse moderno tempo
Matando, assassinando, a tempo, tudo o que está no tempo,
Perigando o tempo vindouro, temperando no tempo o tempo
Onde o temperamento não tem culpa do tempo desse tempo.
Amália Faustino Mendes, 14 de Abril de 2011.

Bramindo em vale de lágrimas


Um grande vale de lágrimas une o oriente ao ocidente,
Em desunião por dores iguais, de sensação diferente,
Gritos semelhantes martelam narizes de olfacto apurado
Olhos furados pelo mesmo penedo de arremesso desamparado.
Um permanente desafio, sem fim, reforça grande desatino,
Bramindo em balão insuflado, á distância, ao matutino
Por grandalhões de burgo, de poder a crédito, possessos,
Irados, lançam rede no mundo e pegam e caçam sucessos.
Mas quebram o jejum com pão amassado de fel amargoso
Tomam refeição ardente, fumegante, insípida, sem gozo,
Bebendo chá de pau odorento que esvazia tudo por dentro.
Ao negro de ouro, o olho furado ou vesgo já não pode ver,
Mas o sentem no que cintila que puro diamante há de haver!
E salvam: tudo é meu, em volume e área, metro por metro!
Amália Faustino Mendes, 9 de Abril de 2011

sábado, 9 de abril de 2011

Um nada a qualquer tempo






Toda a carne é como a erva;
Nenhuma se identifica ao mineral,
Nem a da mais valorosa serva
Permanece em ouro no beiral.

Seca-se a erva e cai a sua flor;
A carne imobiliza-se a fundo,
Desfazendo-se no meio da dor
E da insensibilidade do mundo.

A queda da flor leva o fruto,
Em embrião ainda asfixiado,
E o feto, numa luta em bruto,
Vê-se no relevo do ventre esfriado.

Qualquer delas à terra retorna
Sem se confundir com a pedra
De dimensão arrojada que a orna,
Forrada de cetim cor de cidra.

Pressentida a afluência da efemeridade
Da carne, da erva (da vida) no mundo,
Impõe-se a formatação da perenidade
Pressurizando a consciência a fundo.

Amália Faustino Mendes, 8 de Novembro de 2010

Vida ao léu



Parece-me triste viver desta maneira, ao léu,
Sem a segunda, nem a terceira cobertura,
De costas para baixo a contar astros do céu,
Escutando dos mosquitos a sua partitura.

O ócio é desejado e, até, preferido por aqueles
Que almejam para si uma tipificada liberdade,
Que objectivam, invejando o bem-estar daqueles
Pré-beneficiados e condicionados até pela herdade.

Perseguem tais condições de vida e de estar
Pertenças de outrem surripiam, sem emprestar,
Ainda que só para as ocultarem em mausoléus,
Ajudando a transportá-las, sem aguardar céus.

É gente que ganha a vida à custa de quem investe,
Com saco semi-vazio e veda a pele com pouco veste,
Esperando vencer males só quando subir ao céu,
Então trata-se de figuras humanas que me pareceu.

Tais figuras que parecem gente, mas não são,
Mas é porque de humano pouco aparentam ter
Atitudes e comportamentos com nada de são
Diabruras sem falta e ruindades sem abster.

O pior em tudo isto é o que abunda para tais criaturas
É aquilo que tanta falta faz às vítimas, verdadeiramente
O defensor de direitos humanos, favorecendo diabruras,
Rarefaz-se ao desfavor da vítima que as desmente!

Amália Faustino Mendes, 30 Novembro de 2010.

A violência tem jeito



Primeiro, um valente sermão
Depois, aquele aperto de mão
A seguir, nas costas, empurrão
Nas ilhargas, forte esporão

No braço direito, um safanão
Na testa, um gordo botão,
Preso a um nervoso cordão
No lugar daquele pisão!

Permanente falta de beijão
Presença constante de não
A tudo o que é uma versão
Actual de amor de cristão!

É pau usado em vez de mão
É pisada no corpo do irmão
Marcas de hematoma em pão
Dor interna por um certo cupão!

Mas siga, sem uso do bastão
Ao passar pelo meio do sertão,
Transporte no carrinho de mão
O carinho devido ao seu irmão!

Não use a mão ao fazer sermão;
Aplique inteligência e não a mão!
Escape borrifos férteis de sensação
Com sentido de gestão da emoção!

Sente-se à mesa, partilhe o pão
Que de direito pertence a seu irmão
Se no prato silencia o empadão,
A farinha se encontra no bidão!

Se o resto é comida para o cão
Ao seu irmão não dê esticão
E não o deixe comer o sujo pão
Nem viver dependente de lapão.

Amália Faustino Mendes, 15 de Fevereiro de 2011.

Belmiro


Bem-vindo ao meu coração!
Entra e não mores em vão,
Localiza aqui o teu amor
Mistura-te à mesma dor
Insiste e não desistas disso
Restaura o teu compromisso
Ouvindo o que diz teu coração!

Munido de comportamento precipitado
Arquitectado por um ego espevitado
Renitente e mal tomado pela sorte,
Temperado no seu natural porte
Ilustre em palavras de toda cor
Neste vale de lágrimas já com dor
Sem cuidados essenciais ao dispor !!!

Bramindo em vale de lágrimas



Um grande vale de lágrimas une o oriente ao ocidente,
Em desunião por dores iguais, de sensação diferente,
Gritos semelhantes martelam narizes de olfacto apurado
Olhos furados pelo mesmo penedo de arremesso desamparado.

Um permanente desafio, sem fim, reforça grande desatino,
Bramindo em balão insuflado, á distância, ao matutino
Por grandalhões de burgo, de poder a crédito, possessos,
Irados, lançam rede no mundo e pegam e caçam sucessos.

Mas quebram o jejum com pão amassado de fel amargoso
Tomam refeição ardente, fumegante, insípida, sem gozo,
Bebendo chá de pau odorento que esvazia tudo por dentro.

Ao negro de ouro, o olho furado ou vesgo já não pode ver,
Mas o sentem no que cintila que puro diamante há de haver!
E salvam: tudo é meu, em volume e área, metro por metro!

Amália Faustino Mendes, 9 de Abril de 2011

quinta-feira, 7 de abril de 2011

A força e o poder

Este é o local das bananas e as há verdes, maduras,
De cores diversas, mas não são carregadas em burras
Para que delas não nasçam pêlos envelhecidos pela birra
Que brota e cresce no coração da comunidade que a vira.
====
Como vira, transforma e muda de som, tom e sentimento,
E esta comunidade perde direcção e controlo do momento
Descoordena-se para deixar instalar a anarquia patológica
Que sabe à violência e concorre para a insegurança lógica.
====

Cada cabeça, sua sentença e salve-se quem ora melhor saltar,
Nem mesmo pulando ou rastejando, nada se faz a contrastar
E tudo rende igual ao não se poder fugir das esparrelas
Em túneis labirínticos, que nem têm iluminação a velas!!!
====

E são túneis de ar e fogo que em nada aparentam água a se mover,
Mas é onde há turbilhão interno e externo que não se deixa ver
E sente-se que um membro dessa comunidade tenta podar o amor,
Que se colava ao pouco de paixão do fogo sobrado, com agua a se opor!
====

O grandalhão conta mentira de que nada sentiu, com tudo a ignorar
Enquanto deixa diluir sentimentos nobres, seu humanismo tende a piorar
E como detentor da força opositora da água, tudo pode fazer e não faz,
Mas exibe o poder do que faz quando quer e de tudo o que seja capaz.

Amália Faustino, 25 de Dezembro de 2010
Hélio Artur
Homem de carne, carne de pedra
É assim visto por gente que o considera,
Lutador ante o poderio de um problema
Interior a um órgão esquecido do lema
Oculta questões vitais de carris corporal.

A gente se apercebe da tua luta tenaz
Reconhece ruindades tão imerecidas,
Tormentas que te têm retirado a paz
Urdiduras da caixa cerebral vencidas
Repetentes perturbações não removidas!

Mesmo assim, e a par de tudo isso
Ergues, driblas, dás cambalhotas
Não desistes de todo o compromisso,
Dirigindo todas as tuas forças rotas
E não te deixas invadir por fraquezas,
Sonhos, sucesso, ausência de avarezas!

Martírios sorrateiros, ocultados
Arritmias, sofrimentos apertados
Resquícios de males permanentes
Torturas naturais, porém perturbantes
Insistem em dissolver todas as soluções,
Negando o progresso dos teus condões !!!
Sanidade resiste, sem poder ser total!!!

O Professor e a construção da paz social

O Professor e a construção da paz social

Não tenha receio de ser professor,
Mas tenha medo de o não exercer
E medo de ser um grande repetidor;
Supere modismos, procure crescer!

Um professor acabado, não se produz
Nem o é no fim da vida profissional;
Ele nasce, cresce, vive, reproduz
Mas não morre pelo título e cabedal!

No início, move muitas esperanças
Termina, deixando suas lembranças
Se marcar a mente de aprendente seu
Através das multifunções que exerceu.

O professor que é multifuncional
É lavrador no solo da personalidade,
É psiquiatra da criança e da mocidade,
É coordenador da inteligência emocional.

O professor introduz possíveis mudanças
Na mente de cada um de seus educandos
Instruindo-os para o valor vital de heranças,
Desencorajando-lhes de atitudes de desmandos.

Invista no futuro dos seus aprendentes
Insista sempre com eles e nunca desista;
Lembre-se sempre de lhes dar pista
De oportunidades surpreendentes.

Pela educação cultiva-lhes o valor da vida,
A vacina anti-crime pode-lhes ser injectada,
Ainda ser-lhes desencorajado o espírito bélico
Pelo estímulo ao comportamento pacífico!

A paz social pode reinar e permanecer
Se a tolerância germinar e puder crescer
E for um aliado da paciência para perdoar
O que faz a integração social aperfeiçoar!

Amália Faustino Mendes, 29 de Março de 2011
Primavera



Aqui não há Primavera!



Sei que a Vera é prima de alguém:

É prima do fim de Dom Azágua

É a marca do tempo seco que ela tem

Nos lugares onde nenhum passa régua!



Oh! Então se ali não a conheces

Aqui na Europa, ali na América

E mesmo lá na Austrália e África

Vá lá e neste tempo a reconheces.



Primavera não marca o tempo seco,

Primavera assinala a revitalidade

E as plantas brotam rebentos sem eco

Mostrando suas flores ainda sem idade.



Flores que exibem cores e exalam cheiros

Fazem espirrar, lacrimejar, fotografar canteiros

E guardar realidades exóticas e deslumbrantes,

Ostentando o carácter de alegres semblantes.



De tamanhos e feitios para parte dos bolsos

Dizer para todos os gostos, são ditos falsos

Ao não serem flores para todas as posses

Desejar, roubar e correr, pés com entorses!



Tu aqui olhas para as fotos de flores belas

Que só existem noutras paragens e zelas

Pelas plantas ornamentais do teu quintal,

E valoriza o pouco que tem coloração igual.



Amália Faustino Mendes, 7 de Abril de 2011