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quarta-feira, 26 de agosto de 2015

A Chuva de 24 de Agosto 2015



A chuva de 24 de Agosto

Avenida Cidade de Lisboa
Acolhe a chuva benfazeja
Engole as gotas com cerimónia
Mesmo devagar, protelando goles,
Vai avolumando poças e lagoas
Saboreando o frescor com parcimónia.




Depois, Taiti para competir
Reserva, aqui e além, sua porção
De fundo barrento de escolhos
Como se fosse alguma encomenda
Embrulhada prenhe de mosquitos
Que repousam nos anos de seca


Em frente Cabral aceita calado
O banho de chuva com agradecimento 
Sem compassar o grito resvalado
Das colunas dum mercado ciumento
Que expõe seus artigos às valas de larvas.

Há economia de cheiros e cores
Que atraem qualquer olhar distraído
E narinas insensíveis adquirem olfato
Descobrindo odores a tudo revolvido
Mas ainda as cheias não correram.



Amália Faustino

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Tarrafal DE SAUDADE

Tarrafal
Os dias convertem-se em noites
Voam os meses sem eu ver Tarrafal
Vêm e vão os fins de semana inertes
E sem eu pisar aquela baía triunfal.

Mas ele mantém-me como refém
O meu coração e algum vintém
Que, um dia, as ondas da tua linda praia
Arrancaram e pousaram numa branca saia.

Guardo com afeto o ruído das águas
O chap chap mansinho nas tábuas
Dos teus botes sem medo de nada
Ou de alguém de qualquer camada.

Ainda sinto tua água morna que me batia
Suave como as carícias que eu sentia
E abria, com relaxe, todas as minhas entranhas
Para infiltrares o amor sem coisas estranhas.

Admito que hoje possas estar diferente
Que as tuas águas não driblam corrente
Que os teus botes possam sentir medo
De gente estranha com coração de penedo.


Amália Faustino, 15 Janeiro de 2011

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Ecos perdidos


Este mundo de impiedade,
Gora na gente a desumanidade
Insolente propósito de mouca,  
Para escutar uma voz rouca,
Triturada e moída de alma aflita,
Ornada de sangue que ainda grita.

Não! Nada disso! Sem veleidade!
Escusa fora da crueldade,
Paz moída nuns sonhos esculpidos
ecos perdidos no indagar


Amália Faustino

Cardo Santo


Vi-te a distância de um fôlego,
 E tua beleza encantou meu ego
Despertando-me a tentação
De apreciar tua combustão.

À moda de um cabo-verdiano,
Olhei com olhos da mão,
Segurando-te, a verificar teu tino,
Pressenti tremor de antemão.

Então algo mudou em mim
E decidi examinar se és jasmim
Ou rosa para o meu jardim
Ou cardo santo do meu jardim.

O exame de pouca duração
Ergueu espinhos em função
E por tua tentação em relevo
Meu cérebro sentiu enlevo.

Não pude negar-te um beijão
Numa perfeita mescla sem vão
Com amor que neutraliza espinhos
Em suaves dores, com lanhos.


Amália Faustino