Pilão-Cão
Teu corpo de basalto conseguiu entoar
Lindas músicas, envolvendo teu nome,
Pilonkan, que hoje se ouve a soar,
Ah pilokan kan, ah
gente de renome…
Gente que canta mulheres e meninos,
Embrulhando cenas e argumentos finos
Com palavras que dizem sem desprezar
Nem minimizar gente que vive a rezar.
E erguem fios de teus cabelos, puxados pelo ar,
Pintados pela névoa alva da Serra Malagueta
O filtro retentor da frieza que franze tua testa
Em jeito de uma fictícia raiva que te atesta.
Teus pés ficaram plantados no mar
Constantemente lavados pela água de sal
Acariciados até os olhos de pés, para acalmar
Teus joelhos dobrados em zê no Portal.
Articulando com Bacio, tuas pernas e coxas,
Tua barriga e costas permanecem fixas,
Recolhidas até chã de Barros, parindo filhos
Que se aninham nos teus férteis folhos.
Filhos carinhosos agarram-se ao teu tronco
Aninham-se a gozar o calor dos teus abraços
Escondidos na capa do teu veste de barranco
Rochas, cutelos e ladeiras - únicos embaraços
Teus olhos vêem um mundo finito
Tolhido pelas ladeiras dos horizontes
Preso em vales, mar e montes,
Soltando a esperança no céu infinito.
Amália Faustino, 15 de Setembro de 2012