CRAVO DE ABRIL
Uma réstia da madrugada encaixa
Sobre a ponte 25 de abril
E a luz dos candeeiros agacha,
Esquecendo a noite e o dia barril.
Fogos d’artificio, cores, sons e tons
Ribombam faíscas multicolores e marrons
Invadindo meu campo visual móbil.
E recomeçam peripécias do 25 d'abril!.
Oh Portugal! Hoje não se repete
Com aglomerado de gente e cravos
Avermelhando os peitos bravos
Condoídos, feridos sem canivete!
É a pandemia a extorquir alegria
A todos, em tudo e por toda a parte,
Quem nem bravo, nem cravo na baía
Se encoraja a saracotear a sua arte.
Ponho a mão, na orelha, tento escutar
Donde vem um grito silenciado…
Num peito preenchido por ondas do mar
Inquietando o vaivém do ego pré-ocupado.
Pré-ocupado descontrolado… pós ocupado
Quando chega o momento dado
Quem pode, decide, determina
E pune o condenado que assassina.
Amália Faustino 27 de abril, 2020