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quinta-feira, 22 de junho de 2023

VOLTO ÀS ILHAS

 

VOLTO ÀS ILHAS

 

Lá fora, cheio de pilhas

P’ra um dia voltar às ilhas

A minha terra, e às filhas

Narrar percorridas milhas.

 

À procura de vida, tão perdido

Na imensidão como ferro fundido

Neste areal extenso, absorvido

Muitos feitos, tudo dissolvido.

 

Se ninguém sabia o que trazia

Se evoluir, quem me aprecia?

Se piorasse, quem observaria?

Se enriquecesse, quem saberia?

 

Ah, pois, na multidão sumido,

Ninguém me nota empobrecido

Casa, carro ou loja conseguido

Só o meu país vê e dá ouvido!

 

A ilusão de vida larga e melhor

É tudo que me prende, sem calor;

E se conseguir o que exibir, por amor,

Vou mostrar a meu povo observador.

 

 

Amália Faustino Mendes 

 

DESCRENTE RENTE

 

DESCRENTE RENTE

O dia consequentemente vai

A noite sucessivamente cai

Efetivamente ordena a natureza,

Obedecendo à suprema realeza.

O homem ou mulher só estuda

O universo explora-o com avareza,

Como se a existência na sua grandeza

Fluísse autónoma, desprezando ajuda!

Orgulho besta, esperança camuflada

Fé afundada na ousadia, com frieza,

 Em Deus descrente, e até O despreza

Ao avançar p'ra meta mistificada!

 

EM CRIOULO, MELHOR

 

EM CRIOULO SAI MELHOR

Cabo-verdiano está aqui e em toda a parte,

No país ou na diáspora, ligado em crioulo;

Sampadjudo ou badio, igualmente crioulo

Nos encontros, raciocínio em crioulo.


Cabo-verdiano, como nação diasporizada

Emigrante gesticula em fala desenrascada

Em língua estrangeira, gramática rasgada

Elegância nas palavras mágicas, em rodada.


Em língua d'acolhimento desenrasca no trabalho,

Processando em Língua materna - o seu crioulo;

Para atrair ou repelir outro - farpas em crioulo

E na canseira e raiva - baralhado, senão crioulo.


Ah! cabo-verdianos, amor e carinho só em Crioulo

Na terra ou longe, morabeza, grogue - só crioulo

Coladeira, batuque, torno com brio - só crioulo

Funaná, mazurca até no andar, morna - em crioulo.


Falar com toques e gritos - típico do crioulo,

Abraços de saudade e beijos doces - em crioulo;

Até em pandemia, máscaras debaixo do queixo

Boca e nariz à solta, é p’ra falar crioulo sem fecho.


Mas na pandemia, paciência! Aguenta, meu crioulo!

Bom tempo virá, limpo e livre de vírus do contra

Sorrisos soltos, gargalhadas de alegria na montra 

Mar de abraço, esperança na saúde forte, meu crioulo.


Amália Faustino Mendes       2 de Novembro 2020

terça-feira, 20 de junho de 2023

DIAS SEM NOITES 1

 

DIAS SEM NOITES

            Desde sempre uma coisa sabia:

            Do que me mostrava e desejava

            Do que havia e queria

            Do que não tinha e necessitava…

           

            Sabia que sofria e não dormia

            Se noites houvesse, esperava

Se viesse, p’ra lua me levaria…

            Mas ardia ao sol que me queimava.

           

            Intacta, o fim de semana seria

            Sem sábado que me chamava

            Sem domingo que me queria

            E um atrás doutro eu me enfiava…

           

            Sem asas, cada dia voava

            Toda noite murcha me fundia,

            Rendida no nada que me regava!

            E a secura irritante me torturava.

           

            Nenhum clima, nem água desprendia,

            Escorrendo o suficiente que me molhava 

            P’ra amolecer rachas que havia!

            E torrava exposta ao fole que soprava!

           

            Fundida nos dias passantes, enfurecia,

            Isolada nas noites de lua, só chorava

            Por dias que iam passando, sem euforia

            Por cada noite que de nada contava.

 

            Oh gente! A estas ilhas venha provar:

            Dias sem noites, sol, praia e mar à volta

            Noites de brisa, a morna às ilhas escolta

Na secura sedenta, dias vão e vêm sem lavar.

 

Amália Faustino, junho de 2015

(alterado)


  DIAS SEM NOITES

 

            Desde sempre uma coisa sabia:

            Do que me mostrava e desejava

            Do que havia e queria

            Do que não tinha e necessitava…

           

            Sabia que sofria e não dormia

            Se noites houvesse, esperava

 Se viesse, p’ra lua me levaria…

            Mas ardia ao sol que me queimava.

           

            Intacta, o fim de semana seria

            Sem sábado que me chamava

            Sem domingo que me queria

            E um atrás doutro eu me enfiava…

           

            Sem asas, cada dia voava

            Toda noite murcha me fundia,

            Rendida no nada que me regava!

            E a secura irritante me torturava.

           

            Nenhum clima, nem água desprendia,

            Escorrendo o suficiente que me molhava 

            P’ra amolecer rachas que havia!

            E torrava exposta ao fole que soprava!

           

            Fundida nos dias passantes, enfurecia,

            Isolada nas noites de lua, só chorava

            Por dias que iam passando, sem euforia

            Por cada noite que de nada contava.

 

            Oh gente! A estas ilhas venha provar:

            Dias sem noites, sol, praia e mar à volta

            Noites de brisa, a morna às ilhas escolta

Na secura sedenta, dias vão e vêm sem lavar.

 

Amália Faustino, junho de 2015 (prémio NOSSIDE)

 


REGRESSO

 

 

REGRESSO

 

Queria ver minhas dez ilhas

Queria piscinas e rolar na praia

Queria percorrer mar a milhas

A sorver brisa que se espraia.

 

Queria permanecer nas ilhas

Queria percorrer os cutelos

Queria galgar as ladeiras

E descer os covões verdes belos.

 

Queria estar com a minha gente

Escutar as palavras doces

Sentir a energia que sai

Pelos poros e me alimenta.

 

Queria as frutas tropicais

As papaias, as bananas de poiais

O queijo das ilhas, os peixes de idade

Mas tudo mergulha na minha saudade.

 

Porque tenho que deixar aqui tudo?!!!

Tenho que responder presente sobretudo

Porque todos p’ra porta de embarque

Empilham p’ra o Regresso, sem desfalque.

 

Amália Faustino

29 de janeiro de 2023

o que vem dela é mau por ele ser mau de espírito

 

Nada que ela faça para o bem dele tem boa interpretação no seu limitado entendimento embebido na maldade.

Nesta manhã, de paixão de Cristo, foi-lhe cedido, gentilmente, duas folhas imprimidas do movimento de sua conta, a cores para que visse, em destaque, os juros do depósito a prazo e o salário do mês.

Os maus pensamentos dele o conduziram a uma leitura confusamente disparatada. Viu 100 contos de depósito a prazo em vez de juros no valor de 100 escudos.

A visão de maldade turvou-lhe a consciência e bloqueou qualquer raciocínio para o entendimento sobre o que se encontra escrito no papel, então exigiu uma demonstração no computador, como se não fosse um ficheiro do computador que foi imprimido.

Mas a pior ignorância explícita equivale a dizer que se não ver no computador não acredita no movimento de conta. Acusando-a de estar com manha, insistiu na exigência da demonstração do extrato de conta no computador.

Essa agora!!! Que manha podia haver da parte dela? O registo dos movimentos de conta é feito pela caixa, como pode ela destorcer os dados ou roubar-lhe dinheiro?

Sempre analisa os factos nessa perspetiva, exibindo desconfiança ignorante e pensamento maldoso infundado. Ela lidou permanentemente com ele e suas acusações que envolvem dinheiro.

Conhecendo a história dele e dela, as origens do relacionamento entre eles, posso dizer o que muita gente disse na altura. A diferença de capacidades ou seria coisificada e esmagada ou seria superada graças à vontade equilibrada de ambos.

Houve esforço da parte dele de esmagar a diferença que o distanciava dela. Da parte dela houve abnegação para a sua superação e evolução.

Ela acreditou na evolução dele em função de sua ajuda e que o resultado seria bom para ambos. Um professor ensina igual para toda a turma, mas a apreensão de todos é desigual e dependente de vários fatores, entre os quais a vontade, a capacidade de concentração do foco

É uma pressão e ameaça que nunca pára o desgaste e a perigosidade de lidar com pessoas.

segunda-feira, 19 de junho de 2023

MENSAGEM AO PR CM SM

 


BOM DIA, SR PRESIDENTE. permita-me comunicar consigo por esta via. EU SEI QUE NÃO ME CONHECE PRESENCIALMENTE, COMO GENTE DE S. MIGUEL, MAS SOU DE LÁ ORIGINÁRIA E A PARTIR DE LÁ PREPARADA PARA A VIDA, EMBORA ESTEJA EM PORTUGAL (SEM MUITA SAUDE) OS MEUS PENSAMENTOS VAGUEIAM POR CABO VERDE, SOBREVOAM AS ILHAS, ATERRAM SEMPRE EM S. MIGUEL, APEANDO PELAS CHÃS, ENCOSTAS E CUTELOS DE PILÃO CÃO. DESTA FORMA RETIVE NO PAPEL ALGUMAS DAS MEMÓRIAS E QUERO QUE SEJA CONSIDERADO LIVRO. ANEXO AQUI O MEU PRÉMIO DE POESIA PARA QUE VEJA QUE MESMO NA ITÁLIA EU ME IDENTIFIQUEI COM S, MIGUEL ARCANJO. DESEJAVA MUITO OBTER A VOSSA COMUNICAÇÃO POR EMAIL (amaliafaustino@gmail.com)  MEU LIVRO, DE ALGUMA FORMA, VALORIZA O NOSSO MUNICIPIO, ENRIQUECENDO-O POR SER DE LÁ ORIGINÁRIA, MELHORES CUMPRIMENTOS

PREMIO NOSSIDE



domingo, 18 de junho de 2023

Dia da Criança, Stepheny

 Dia da Criança, Stepheny


Sou uma singela criança em botão de flor!
Tento desabrochar, na fé e esperança,
Ensejos paternos de um mundo melhor;
Paraíso p’ra gente boa que não ameaça,
Humanos que emergem e rugem sem dor
Enquanto apagam agruras da mesma raça,
Nascida, já com proteção dum Guardador!
Yes, e agora respondo com igual graça!

Amalia Faustino (1 de Junho 2013 - Dia da Criança) 

sexta-feira, 2 de junho de 2023

DUETANDO NAS NUVENS

 

GRITOS ENTALADOS

Enquanto podes, grita na hora

Enquanto queres, cala a desforra

Enquanto fores livre, gargalha

Ri até chorar e desabafa como calha

Ostenta o avesso da alma que nada te abala!

 

Pode chegar o dia de fictícia paz

Pode chegar o momento de pseudo liberdade

Pode o corpo gritar a alma no eco d’incapaz,

Pode o silêncio em paz de alma soar a necessidade.

 

E nós, ainda duetando nas nuvens

 

Estou aqui, estás aí e nós cá e lá estamos,

Navegando em qualquer oceano

Voando no ar, no após nuvens

Tateando o céu abraçado ao mar.

 

Gatinhando na terra a quatro mãos

Navegando em águas p’ra caravelas com véus,

Voando a quatro asas nos céus e vãos

Arregaçando nuvens como cortinas de Deus

 

E nós, ainda em dueto nas nuvens….

 

Amalia Faustino                                        2022

GUBEYA

 

Registo Gubeya

 

É mais uma vez inoportuno. Estava eu a corrigir textos escritos.

- Não deves estar muito ocupada, ajuda-me aqui a esclarecer ao compadre. Toma aqui o telemóvel com o pedido dele, e responde-lhe.

Como sempre quer ser reconhecido como bom da fita, aquele que ajuda os outros. Mas a mim oculta-me na invisibilidade e ainda exige imediatismo, obriga-me a fazer-lhe o serviço, fazendo-me interromper sempre o que quer que eu esteja a fazer, seja meu benefício pessoal, minha necessidade ou mesmo que seja algo bom para nossa família ele nunca valoriza.

Sarcasmo violento é ele ir procurar prazer a comer ou outro, quando ele me pede para lhe fazer qualquer coisa. Ele desloca-se arrastando os chinelos, nem presta atenção para aprender ou compreender, visando manter-se dependente negativo.

Desta vez foi ridículo demais: entregou-me o telemóvel e desapareceu. Li a mensagem do compadre que pedia informação sobre a morada para o preenchimento de um formulário. Entendendo que se tratava de caixa postal, dados que em Cabo Verde não existe, apresentei a sugestão 0000-000 NA e enviei a mensagem, identificando que era eu a escrever no telemóvel de Gubeya.

Ia retomar o meu raciocínio, depois de o desviar a limpar o chão para me acalmar. Ele pegou o telemóvel e viu a mensagem, chamou-me.

              - Aqui está a folha do formulário. Isto não deve ser assim. Deve ser que ele quer o meu endereço de Portugal e não o dele.

              - Estar a ver que na verdade só me interrompes para me atrasar no que eu faço? Tu não sabes o teu endereço para enviar ao compadre? Afinal não era necessidade nem dúvida que tinhas, é preguiça mental que te impede de me deixar alguma folga para fazer outras coisas. Não deves explorar-me ininterruptamente. Dá-me algum espaço.

              - É que eu não sabia, tinha duvidas trouxe-te para lhe esclarecer.

              - tu pedes a mim tudo que deve ser pensado com cabeça. Nunca despendes energia para raciocinar sobre nada, porque pensar cansa.

              - Ah não!!! Assim me ofendes. É que eu não tinha lido a mensagem do compadre, nem tinha o formulário comigo. Agora já percebi.

E começou a responder ao compadre, pedi para apagar as minhas palavras na mensagem do seu telemóvel. Estavam já apagadas.

Entrei no escritório para tentar retomar o trabalho. Lá veio ele de novo interromper:

              - Olha aqui no meu cartão – qual dos dois é número de identificação, o de cima ou o de baixo?

              - Tu nunca deste o teu número a nenhum serviço? Qual tu deste? Credo! Tu és mesmo mau!!! Não me deixas fazer nada que tenciono, nem mesmo o que tu devias fazer e nem pensas nisso. Preciso responder a emails e mensagens ao negociante que tu me impingiste.  Tu avançaste no negócio com o homem e agora andamos às voltas, nem raciocinas sobre o que de bem tens a fazer., nem me afrouxas a pressão sobre o cérebro. E o homem chama para o meu telemóvel, exigindo resposta e foi meu dinheiro que dei como sinal. 08:08

24 de maio

Desnorteado, surge na porta do quarto dela, onde se encontrava estendida na cama de computador sobre a barriga a escrever. Avança um pouco e espreita mais a dentro e pergunta:

              - Onde foste esta noite? Foste a algum sítio nesta noite? - afastou-se e dirigiu-se a porta do seu quarto, mas ouviu.

              - Cuidado com a cabeça ! – alertou-lhe ela.

              Não parava de atravessar o corredor comum aos dois quartos, com vontade explícita de analisar o que se passava no computador da companheira com que partilhava o apartamento e não resistindo o suficiente o impulso de provocação, espreitou de novo para dentro do quarto dela, perguntando:

              - Porque fechaste a máquina que pus a lavar e encontrei parada?

              - Eu estou continuei neste sítio em que me encontrava.

              Ele entra para o seu quarto de novo, sem encontrar justificação para perpetrar a agressão que lhe dá vontade e faz.  

              Entretanto demora uns minutos no quarto e volta ao corredor, deixando a porta aberta, donde desempacota o cheiro a sujo que lá permanece sempre. Algumas peças ou utensílios, que lá se encontram, têm a missão de reprodução contínua de necrófagas. Essas não as pode remover do lugar onde se deita e também ocorrem encontros entre seres invisíveis, mas audíveis.