PRIMEIRO DIA ESCOLAR
(Escolarização de meninas no interior de Santiago
– década de 60)
Era
um dia especial para a minha Tininha. Um sete de outubro que amanheceu sem sol.
Uma manhã muito enevoada. Chuviscava até. O caminho que dava acesso a Cutelo de
Tinta quase que não se via. Estava um pingado, tanto de miúdos de bata branca
que se dirigiam à escola, como pelo nevoeiro que embaciava a chã, o covão e a
ladeira.
Via-a
tremer o seu franzino corpo, ora realisticamente, devido a um friozinho
provocado, tanto pelo tempo, como pela temperatura do vestido novo de popelina
que ia estrear ora, por um medo invencível. O fêto foi
preparado de véspera. O papai pôs dentro dele uma cartilha já farta de ser
esfolheada e lida, um caderno pautado novo, um aparo de tinta e um tinteiro, uma pedra
e uma peninha. Havia também um embrulho que depois soube que continha milho
assado.
Eu
mesma pendurei o feto dela ao meu pescoço e puxei-a, por quatro dedos, para
sair do quarto.
E
ela não falava, como se fosse noiva de Serelho! Ela também,
desta vez, nem chorou quando lhe fiz as tranças. Pensei: fez agora sete anos,
rompeu com o mau costume de chilrear quando está sendo penteada.
A
caminho da escola, depois de alguns intentos da minha parte, Ailama Sednem, a
minha querida Tininha conseguiu tirar a boca da coima e desabafou:
- Eu não sei se isso dá certo.
- Mas isso, o quê?
- Hum… Isso de eu ir para a escola. Eu
bem que queria e sempre quis ir para a escola para saber ler e escrever. E
também para ser Dotora. Mas olha diante de nós: só rapazinhos a ir para a
escola. Nenhum menino fêmea vai. Eu insisti com a Antonina, Mélia e Furtada
para irmos para escola em Outubro. Elas até queriam, mas as mamães delas é que
não. Ah qual história de meninas na escola! Escola de meninas é coxir e pilar milho,
apanhar água, lavar e tingir roupas com tintinhas, cuidar dos animais e de casa. Na escola, as
meninas vão é aprender a escrever noivos, isso sim, e mais cedo do que for
preciso.
- Que coisa menina?! Tomara eu tivesse
a sorte que agora tu tens. Eu quase nem fui para escola até hoje. Nem tive
oportunidade de pensar se queria ir ou não. Nem tive mãe para me dizer essas
coisas.
- Nina, olha: eu vou, mas não quero
ficar na escola no meio de rapazinhos malcriados. Eles vão se meter comigo e eu
choro, certo? Grito e corro para casa. Já sei regressar sozinha.
- Eles não se metem contigo, senão eu
dou-lhes bordoada, na ribeira ou na achada, conforme o caso.
- Ayân (sim). E o que é que a senhora
vai fazer com o senhor professor, que dizem ser ele tão mau como o lobo? Até txuputi
(dá beliscões?) e morde.
- Nada. E não é verdade. Olha que já
chegamos. É aqui a escola onde vais estudar a primária. Olha lá o Domingos! Ele
está grossinho, frequenta a 4ª classe. Já pode tomar conta de ti, miúda. Vem cá
comigo para ao pé dele.
Ah,
o Domingos é o filho do tio Costa, o nosso vizinho mais próximo na Chã Cardoso.
Entretanto, ele aproximou-se de nós, sorridente, com o seu fêto de quadrados
cinzento e branco, bem gordinho, porque continha livros de leitura, de Aritmética e
Geometria, História e Geografia de Portugal, Ciências Naturais, cadernos
quadriculados, pautados e sem linha, para além de pedra e peninha que a Tininha
também tinha. Milho assado e batata assada, certamente, estavam lá também.
Senti-lhe cheiro de um adocicado misturado.
Resolvi
que ela se sentasse sobre a borda da calçada, enquanto aguardávamos pela
chegada do Sr. Suetam. Mas ela não aqueceu aquele assento de betão. Levantou-se
e foi apalpar as pétalas da roseira e do cravo que, nessas redondezas áridas,
num ano de azágua sem chuva (tempo de
agricultura de sequeiro), só se encontravam na escola. Chegou a sentar-se no
chão, no canteiro circular de uma planta. Coitadinha! Também não conhecia os
alunos que lá estavam a circular, saltando e correndo nesse pátio calcetado de basalto negro
regular.
Em
menos de quinze minutos de espera chegou um homem alto, escuro, grossos cabelos
encaracolados, vestido de calças cinzentas e camisa de punho branca, bem
passada a ferro. Não trazia nenhuma pasta na mão, mas todos os alunos, sentados
nos degraus da escada de acesso ao hall de entrada, se levantaram a
cumprimentá-lo com um ruidoso “bom dia, senhor professor!”
Tininha
levantou-se do chão também, passou as mãos abertas pelo traseiro do vestido
para despegar algum pó, que eventualmente lá teria ficado. Ao invés de correr
para a porta de entrada da sala de aula, veio em direcção às minhas pernas e
agarrou-me com as suas frágeis forças, a chorar, num murmúrio soluçante que eu
pude entender:
- Eu vou contigo, agora, para casa. Com
esse homem de boca grande eu não fico. Agora tenho certeza: ele morde mesmo. É
como dizem por aí.
- Oh querida, minha irmãzinha! Dizem
isso por aí, mas não é verdade. Ele é como papai. Esses meninos todos são como
se fossem filhos dele. E eles vão ficar na escola. Tu não ficas, porquê? Sabes,
daqui a pouco vão distribuir aquelas bolachas que tanto gostas. Vais beber
leite e antes de ir para casa tens comida quente com galinha ou peixe.
- Mas ele vai-me bater, não vai?
- Em princípio não. E se o tiver de
fazer, não será diferente do que papai te faz.
- Mas papai é meu pai. Ele só me
castiga se eu errar. E depois, é ele quem me dá doces e fatiotas.
- O Sr Suetam, poderá castigar-te, sim,
mas é só se errares.
- Ó meu Deus! Então eu vou levar mesmo
e muito. Eu ainda, na escola, só sei errar…
Não
havendo outro remédio só restava a Tininha a alternativa de ficar na escola e
começar as aulas.
Entrou
na sala, tendo eu ficado distante da porta para o caso de ela cumprir a
promessa feita: “grito e corro para casa”. Vi que o professor dirigiu-lhe umas
palavras em Português. Talvez lhe indicasse a carteira onde devia sentar-se,
pois, ela torceu-se um pouco mas dirigiu-se à terceira carteira da primeira
fila, a contar da porta.
A
fila da 1ª classe continha meninos de sua idade, os mais altos foram colocados
no fim da fila. Ela olhou para trás, antes de se sentar. Não conheço ninguém e
são todos rapazinhos,"xuxos pé-de-ferro, desgraçados. O Luizinho, que já era repetente, não perdeu
a oportunidade do seu olhar vago, para lhe chamar atenção com uma feia e
arreganhada careta. Mas ela virou-lhe as costas e sentou-se, tirando a sua
pedra e peninha para escrevinhar.
Um
aluno do segundo grau feito andava a ajudar o Sr Suetam na tomada de lições aos
meninos da 2ª classe e a ensinar os da 1ª a desenhar “o”, dentro das linhas
traçadas e dizer ABC, Antão, Bento, Carlos… que a Tininha bem dominava, porque
papai ensinara-lhe desde os quatro anos, com atenção puxada à custa de kakerada de pó di pila
tabaco.
O
Domingos encontrava-se na última carteira da derradeira fila. Mesmo assim, a Tininha
foi-se deslocando, esgueirando sorrateiramente, até que se sentou ao lado dele,
em busca de protecção. Sentou-se de pernas para fora da carteira, evitando prendê-las entre os galhos da mobília e permanecer pronta para
fugir, caso fosse necessário.
Havia
umas regras quanto à saída da sala, no decurso da aula. Um objecto branco era
colocado sobre a mesa do professor. O aluno, que precisasse de sair, para fazer necessidades, aproximava-se, silenciosamente da mesa, apanhava o objecto e saía, sem
perturbar o professor e a classe que o rodeava para tomar e dar lição.
A
norma teria uma dupla vantagem: ninguém precisava de verbalizar o pedido de
licença, os alunos só podiam sair, um de cada vez, para fazer xixi e não se
juntavam no pátio para arquitectarem traquinices ou para brigarem.
Mas
Tininha, no primeiro dia, não venceu a timidez. Manteve-se ao lado do Domingos
durante as quatro horas e meia de aulas. Não pôde sair nem para fazer xixi. Não
é de estranhar a possibilidade de ela ter molhado a parte de traz do vestido
novo, sobre a qual se manteve sentada a esfregar durante as últimas horas, olhando
de quando em quando, furtivamente para os companheiros da 3ª e 4ª classes que a
ladeavam.
Quando
o professor declarou “podem sair” eu já tinha voltado à escola para levar para
a casa a minha princesinha, para almoçar leite coalhado de vaca com cuscus
morno que eu acabara de preparar. E ela chegou à porta entre os primeiros
meninos, com ar de cansada e indisposta, mas confiante em mim, saltou para o
meu pescoço que, abaixada eu aguardava pelo seu abraço.
Passado
assim o primeiro dia escolar da Tininha, em casa todo o interesse estava
centrado no processo de escolarização dessa menina. Estava o pai a explicitar
os objectivos que traçara para a menina, sempre espezinhando a mãe,
desprezando-a pelo seu analfabetismo: “bu ka kre pa ela ba skola, p’e fika sima
bo?!”. Não queres que ela frequente a escola para poder ficar analfabeta como
tu. Mas ela vai seguir a via académica, mas vai, vai. Ela é muito profeta
para ficar como nós.
A
mãe da Tininha, coitada, de facto, era a única pessoa em casa que não reconhecia
nem o “U” que os burros escreviam no chão. Eu tinha a 2ª classe, sabia assinar
o meu nome. O pai, com o 1º grau, ensinava a ler aos meninos da zona. O Mano,
dois anos mais novo do que eu, já possuía um 2º grau respeitável. A Mana, que
era dois anos mais velha do que eu, ela também era como a minha madrasta. Casou
aos 17 anos e o meu cunhado também era analfabeto.
À
hora do jantar não se discutia outra coisa. A Tininha não parava de
protagonizar a discussão em torno da ida à escola, inserindo relatos sobre o
que viu e ouviu ao longo do primeiro dia. Circunscrevia o que sentiu, silenciando
sempre justificar a razão do vestido molhado trazido da escola.
Sendo
a única menina na classe, haveria de passar mais vezes por essa situação. Uma
das vezes foi quando estava sentada com o Luizinho, na última fila. Luizinho já
era calixadu
na 1ª classe, mas sabia “fazer conto”
ameaçava a Tininha com um “N ta ba da prussor parti’l bo”. Ó prussor! Alâ…
alâ… Só que desta vez ele concluiu a frase: Ala Tininha ta cuspir no chão!
Eis
que o professor veio em nossa direcção, observou e o que viu? Isto não são
cuspos, oh Luís. Deve ser água dela que se entornou.
Tininha
sabia que não tinha levado recipiente com água. A água não exala aquele
cheirinho. Então começou a reconhecer a benevolência do professor em não a
castigar por ter feito aquilo. Mas este chamou-a, no fim da aula, e eu vi os
dois frente a frente, mas a minha menina tinha as mãos atrás das nádegas,
assegurando, enrolada, a parte molhada do vestido.
Ao
entrar em casa, a Tininha parecia ter levado vestido alheio: entrou
imediatamente para o quarto, desenfiou-se daquele vestido, tendo-o metido
debaixo da cama.
Percebi
o vexame que aquele acto lhe representava, também tratei de não ser curiosa,
dizendo-lhe queres tomar banho comigo? Tu esfregas-me as costas e eu faço-te o
mesmo, queres? Depois almoçamos sentadas com o corpo fresquinho!
Era
um banho de balde e caneca com sabão de inglês. Este era um pacote de sabão
azul importado, eu não sabia donde. O que se fabricava no país era castanho e
denominado de sabão de terra, feito de óleo de purgueira. Não era preferido
para lavar o corpo e caso a espuma entrasse nos olhos passava minutos a fio a
arder.
Curiosamente,
a purga, enquanto estivesse verde (a nina) podia ser utilizada como brinquedo.
Semelhante a pião ela era perfurada e atravessada, ao meio, por um eixo de pau.
Esse pauzinho era um raminho da folha do coqueiro ou outro, bem parecido, que
servia de eixo sobre o qual ela dançava como um pião. O pião também existia e
era feito, de forma artesanal, pelos rapazinhos, a partir de bocados de madeira
ou ramos verdes das árvores.
Mas
Mana, Zezé cantou “ta codje purga pa n
odja-l ta ba liceu”. Isto agora como é que se explica. Tininha, eu
queria ainda lembrar dos jogos cíclicos. Ou era o pião ou era a nina, ou era a
praga de papagaios de trapo, jogos de malha para as meninas, as brincadeiras de
roda o batuque e o torno no terreiro em que de vez em quando se revelavam
talentos masculinos. Uma coisa estranha é ver os rapazes a espancarem as ancas
pelos lados como as sacodem as meninas. Normalmente batem-nas no sentido
rítmico frente e trás.
Mas
vamos ao que Zezé di nha Renalda cantou: “ta
codje purga pa N odja-l ta ba liceu, ku se bata branco aibo”, ou seja uma
mãe colhe grãos de purgueira para poder ver a filha no percurso académico
liceal. Isto quer dizer que purga ou a semente de purgueira que nunca foi
comida, era, numa dada altura, em Cabo Verde um produto valioso. Até havia quem
a considerasse ouro.
-
Mana, papai disse que o ouro é que é o objecto de maior valor no mundo. Então?
-
Ninguém disse que purga era ouro, mas é uma forma de a comparar com o ouro num
país que nenhum minério tem.
-
Oh! E daí? Ah já sei. Faziam-se brincos de nina! Eu já vi a Taivina com brincos
da casca de nina. De semente mesmo, nunca vi.
-
Tininha, é a semente mesmo que é valiosa. Dentro da nina madura retira-se
sementes revestidas de uma crosta preta e durinha, vamos lá ver. Vou até a
ladeira e trago-te ninas verdes, maduras e secas para continuarmos a conversa.
Espera sentada.
-
Eh pá, volta rápido, pois, vou cuspir em cima de uma pedra para tu encontrares
ainda sem secar.
-
Deixa-te de porcaria, pois eu volto já.
A
Nina voltou com as ninas na bandola. As verdes, porque largam nódoas no pano,
trouxe-as na mão. Descascou as secas e mostrou as sementes negras, partiu-as e
deixou a Tininha ver a parte branca e consistente, explicando-lhe que ela
contém azeite. É o azeite da purgueira.
-
Pega, Tininha. Mete a unha e vê como fica oleada. Esta semente possui óleo. É
aquilo que chamam azeite de purga. Eh, txiga Ivo!
O
Ivo nutre pela Nina um grande afecto, um misto de priminho e moço com
apaixonite. Mas quando intervém numa conversa ou pretenda falar de qualquer
assunto, exprime-se em tom exibicionista com seriedade explicativa, inspira
muita confiança.
A
purga era o fruto da purgueira, cujas sementes eram esmagadas, cozinhadas e a
massa obtida era mantida molhada durante vários dias, em grandes potes, até que
o seu azeite subisse à tona para ser desnatado e depois utilizado no fabrico do
sabão. Também dos grãos era retirada a casca dura, a parte branca de formato de
um pequeno rim era enfileirada num ramo para ser queimada e mantida acesa para
iluminar as casas. Chama-se candeeiro de purga. O azeite era e é ainda usado
como medicamento de combate a dores e inflamações musculares e articulares.
-
Ivo, lembra ma purga inteiro tem valor: o tronco, os ramos, as folhas….
Tininha, olha, a lenha chacinada que tenho no quintal é de purgueira. As folhas
podem ser fervidas como chá para as mulheres paridas.
Ah,
antigamente as sementes de purgueira tinham valor comercial bastante alto, ou
seja, eram vendidas para fora de Cabo Verde.
-
Assim, tu entendes que uma mãe que colhia purga, vendia-a para obter dinheiro
para pagar as despesas de escola e liceu dos filhos.
-
Está bem, mana, entendi. Mas eu quando for mais grande vou para o liceu, quem
colhe purga para mim? Vou perguntar a mamai.
Nha
Benita ainda estava rija. Colhia purga todos os anos. Ela fazia sabão de terra.
A casa ficava à beira da estrada ladeada por paredes grávidas perpétuas que, de
vez em quando, pariam pedras que desarranjavam o espaço de passagem. Os carros
por essas bandas também eram raros. Suas pegadas mantinham-se firmes durante dias
a fio, porque não eram pisadas pelos peões que comodamente passavam pelo meio
da estrada. Os meninos observavam o solo em competição à porfia, para
distinguirem a passagem das rodas das marcas de pegadas de pessoas calçadas com
sapatos de solas forradas de pneus. Curiosamente, como a maioria das pessoas
passavam aí descalças, os meninos conseguiam identificar as marcas dos pés da
Ana de Cialu que possuía características especiais de uma tulipa: os dedos eram
todos afastados uns dos outros, de modo mais marcante via-se um vazio entre o
polegar e o indicador.
- Mamai, oras que eu for para o liceu
quem é que colhe purga para mim?
- Ó Tininha, quem é que te mandou
perguntar-me por essas coisas?
- Zezé de nha Renalda é cantou assim:
Feia, cabelo bedjo…na na na…. ta codje purga pa n odja-l ta ba liceu. Eu vou
para o liceu e tenho cabelo bedjo que nunca deixo pentear porque dói demais.
- Oh nha filha, eu sempre colho purga
todos os anos. Se Deus me emprestar vida e saúde, quando tiveres idade e escola
para ires ao liceu eu terei mais purga, faço sabão para vender e ter dinheiro.
Se não fizer seca demais os nossos animais crescem e aumentam, vamos vendendo
alguns para ficar com mais dinheiro. Não te preocupes, agora é só ires às
aulas, prestares atenção, aprenderes bem as lições para passares no exame.
- Exame é o que é, mamai?
- É prova que os meninos que forem tirados têm de fazer para passar de
classe.
- Ahn!
Tudo menino não será tirado!!!
É
claro que nem todos os meninos eram tirados
para o exame ou submetidos a provas de exame. Aqueles, passíveis de perder
nas provas não eram propostos. Portanto, havia dois momentos principais de
sofrimento para o aluno ao longo do ano lectivo: em Maio, na altura da proposta
para o exame ficava na expectativa de ser tirado ou não; em Julho, depois de
prestar as provas podia ficar admitido ou não à prova oral e ficar aprovado ou
reprovado na classe.
- Mas tu, que és esperta e já sabes ler e
escrever e contar vais ser tirada para o exame e vais passar. Tens um bom professor.
Bom professor para a Tininha não era a
mesma coisa, mas ela já tinha se apercebido que o homem não a tinha castigado
quando fez xixi na roupa, tendo ele disfarçado a queixa do Luizinho com o falso
entornar de água. Por isso, nesse dia não estava disposta a reclamar de nada
acerca do Sr Suetam. Passou a tarde nesse estado de um pouco desconfiada, porém
mais assertiva. O Ivo tinha divertido um pouco com nina e ido embora. Tininha
jantou sem resmungar muito. Dormiu sono de justo.
O Galo cantou pela terceira vez, depois
de ter raiado o dia oito de Outubro. A Nina levantou-se para pilar milho que
nha Benita tinha kotxido e molhado. Ao amanhecer, era dever das moças maduras
apresentar cuscus subido, tudo com pele.