Nós
e iões da paixão
Estava no silêncio dum viçoso milheiral
A erguer-se da queda dum vendaval
Que já uivava distante do seu beiral,
Escutei assobio agradável dum pardal.
Em meu redor, pestanejei os olhos
Tentava vê-lo, piscando sobrolhos
A fintar o sol das quatro, em pedregulhos,
Sem deslocar o pé, evitando abrolhos.
Pardal nenhum lançou outra chilreada,
Mas assobio de homem, numa casa desabitada
Ecoou a melodia de “ami dja n kria ser poeta”
Depois ele brotou em sua
feição musculada.
Dirigindo-se a mim, verbalizando piropos,
Prestei atenção de que não dizia trapos
E nessa voz trémula
de engolidos sapos,
Parecia falar de amor destes campos!
Alertou-me pelo abraço dos feijões
Ao que o milho não fugia, dando esticões,
Nem as cordeiras secas caíram de zimbrões
Que mantiveram mansos os seus esporões.
Perante seus exemplos de animais em ações,
Fui vendo moscas, aos pares, imitando aviões,
Gafanhotos a dois, brincando a foguetões
Tudo sem falas audíveis
ou acesas discussões.
Porque nós, os homens e mulheres, trememos
Sem muita razão, quando nos apaixonarmos?
A naturalidade dos animais não apropriamos
E fixamo-nos na superioridade que embarcamos;
Ao sentirmos muita tensão é que obstamos
O raciocínio, escasseando a lógica que temos
Sem dar braço a torcer que nos enganamos
Na escolha que (não) fazemos e afundamos.
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