De um lado ele, do outro, ela…
O mar e a terra separando os dois
A mesma chama queimando a ele e a ela
Ambos não contêm o expirado fôlego de bois!
E ouve-se de lá chiando os dois
A terra e o mar que observam,
A conter energia dos dois sóis
Que sem as mãos não desbravam.
A energia contida nos órgãos
Fazem-nos avolumar, respirar,
E latejar, sem dor nos pés e mãos,
Mas sim de prazer a enfartar.
Se é o que arde que os faz espirrar,
O que é doce os faz lamber os beiços,
O que é salgado vai a tensão alterar,
O corpo em tudo redobra em esforços.
Que coisa é essa que sinaliza a vitalidade,
Enlouquecendo qualquer um que a porta,
Desrespeitando preconceitos da sociedade,
Sem desprimor pelos valores que importa?
Essa coisa é a atracção de dois que se queiram,
E se entregam, cegos por quem se lhes vê,
Ensurdecidos para o que deles se ouve,
Sem sentir o cheiro que no momento exalam!
A atracção confisca a fraqueza e confere forças
Mais do que o ardor de Camões, o amor é doce
E omite qualquer sofrimento, sem esforços,
Só requerendo a ausência de foice e coice.
Amália Faustino, Santiago de Cabo Verde
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