É penoso ver pagar entes
Por actos de outras mentes
Que em tempos remotos
Semearam venenos a lotos.
Se a lotos andam em jogos,
O presente é ganho a fogos
Que o tempo dribla em nó,
Num futuro afundado sem dó.
A humanidade desregra-se,
Vem o mal e perpetra-se,
Trepando-se a olho nu, visto
E a terra está cheia de quisto.
Sol acende, mar fumega, terra racha,
O céu, em poder mancha
Gotas mil vêem-se em derrame,
Range tudo, pondo todos a leme.
Confirma-se em tudo a atolada:
Ladeira e corpos em derrocada
Víveres, pedreiras em barreira
Imparáveis ao azul vão à abeira.
Pesadas vacas bóiam sem rumo
Árvores, de raiz em flor, acenam
E aves vêem, esvoaçam e rodopiam,
De seus peitos palpitantes, sai fumo!
Peixes de barbatanas em leque
Ginasticam no turbilhão da água
E, prepotente para que nada fique,
Para lá arrasta, extinguindo a mágoa!
O mar, sem tempo para acatar as algas
Desertou seu fundo que se manifesta piegas,
Indicando vias cruas e nuas pelo toque
Onde os seres se encontram em desfalque.
A Terra, essa deixa-se decompor:
Tornados formam-se para transpor
As barreiras fronteiriças artificiais,
Cortando aldeias e densos pinhais.
E no rasto da destruição se nota:
Telhados voados já sem conta
O que torna evidente a falta de cota
Que na reunião se deve, mas não se vota.
Cai o orçamento num plano desfeito
Afrontas iguais a pobres e sem jeito...
Os menos ricos sofrem a dor do peito
Bolsas, bolsos e contas com defeito.
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