Pesquisar neste blogue

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Um boné mágico


Um boné mágico

 

Nasceu há uns meses, um  certo bebé;

Seu babado pai ofereceu-lhe um boné

E esse boné lhe conferia um estatuto

Que à sua cabeça se fazia de substituto.

 

O boné que servia a bebés de três meses

Foi-se tornando grande, N vezes

Face à pequenez contínua da cabeça

Que se desfazia à sombra da linhaça.



E via-se o pai a assumir a criança

Que aos 3 meses se lhe via  a esperança

Mas ao completar seis meses de idade

Caiu-lhe o boné no centro de gravidade!

 

Absorvido e redemoinhado pelos alísios,

E a temperatura corporal a 70º graus celsius

Se elevou, a ponto de derreter o miolo,

Empapando-o em forma de bolo.

 

Desmorona agora o estatuto, visto a binóculo

No fundo de um túnel sem luz, visto a monóculo

Reviram-se os anseios do pai, desmanchados,

E desmascaradas por vozes de lábios inchados.

 

 

E nos cabelos, já grisalhos, antecipam-se, à mostra;

Os caracóis, em bandeira não nacional ,acenam

Ventilando a têmpora em brasa que entra

Numa ratoeira que colhe filhos que contracenam.

 

Na calada da urna vai  o pai, com gritos retidos,

 A garganta a engolir-se e os ratos pisados

Deslizando-se na passarela da labiríntica execução

Restando apenas as alternativas da deposição.

 

Amália Faustino Mendes

Sem comentários:

Enviar um comentário