Pesquisar neste blogue

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

ROXIDÃO DO OUTONO

ROXIDÃO DO OUTONO
Estando em Boston, Paris, lisboa ou Burela
Tento sentir o Outono a desgrudar o verão
E devolvê-lo à procedência, em Cabo Verde
A esse meu país com íman que atrai e fixa.

Se meu espírito vagueia pela cidade de Paris,
Rastejando por Nice, percorrendo até Burela
Toca Braga, Lisboa, acenando aeroporto de Portela;
E a réstia de sol de Outono, arco na água de chafariz!

Em muitas outras terras o TUDO é demais:
Muito Sol que pode abrir qualquer tipo de fogo
Sobre gente em falência na água de desastre,
Sem tudo, no meio da abundância e desafogo.

Por minhas paragens, a chuva vagabunda não abunda
Brumas e lestadas chicoteiam as águas merecidas,
Em gotas soltam e caem, miseráveis, nas terras ávidas
Revoltadas e bravas; à distância, dilúvio no Atlântico.

Agora, estar nos States ou Europa, dá na mesma!
De longe, contemplo o Outono a pintar de aguarela,
Depenando árvores caducas, decorando o ambiente
Com plantas esqueléticas e folhas em agonia multicolor;

E vejo deportar passarinhos de penas pesadas
A fugir do frio, para caracas quentes e distantes,
Ao sentirem o Outono, embrulhando Sol em água.
E como tudo isso é alegria de experiência ausente!

Vejo uvas e castanhas roxas, devoradas com paixão,
Por gente carrancuda, marinada no vinho novo
- Bebida de uvas espremidas com pés descalços,
Fartura na vinha desgalhada em vindima.

Ah Outono! Desconhecido no meu país de claridade
Onde o Sol, destemido, campeia sobre mar e ilhas,
Enrolando ondas, soprando brisas, aspergindo sal…
E a bruma é peneira da força do ozono a filtrar raios.

Se para lá, pássaros sem bilhetes, partiram em voo,
Carrapatindo em carracas de calor e mares de atração;
Aqui deixam a melancolia esvaziar a melodia dos campos,
Que exuberam a roxidão que só cativa a triste paixão.

Amália Faustino
19 Outubro de 2017

Sem comentários:

Enviar um comentário