ROXIDÃO DO OUTONO
Estando
em Boston, Paris, lisboa ou Burela
Tento
sentir o Outono a desgrudar o verão
E
devolvê-lo à procedência, em Cabo Verde
A
esse meu país com íman que atrai e fixa.
Se meu espírito vagueia pela cidade
de Paris,
Rastejando
por Nice, percorrendo até Burela
Toca
Braga, Lisboa, acenando aeroporto de Portela;
E
a réstia de sol de Outono, arco na água de chafariz!
Em muitas outras terras o TUDO é
demais:
Muito Sol que pode abrir qualquer
tipo de fogo
Sobre gente em falência na água de
desastre,
Sem tudo, no meio da abundância e
desafogo.
Por
minhas paragens, a chuva vagabunda não abunda
Brumas e lestadas chicoteiam as
águas merecidas,
Em gotas soltam e caem, miseráveis,
nas terras ávidas
Revoltadas e bravas; à distância,
dilúvio no Atlântico.
Agora,
estar nos States ou Europa, dá na mesma!
De
longe, contemplo o Outono a pintar de aguarela,
Depenando árvores caducas,
decorando o ambiente
Com plantas esqueléticas e folhas em agonia multicolor;
E
vejo deportar passarinhos de penas pesadas
A
fugir do frio, para caracas quentes e distantes,
Ao
sentirem o Outono, embrulhando Sol em
água.
E como tudo isso é alegria de
experiência ausente!
Vejo uvas e castanhas roxas, devoradas com paixão,
Por
gente carrancuda, marinada no vinho novo
- Bebida de uvas espremidas com pés
descalços,
Fartura na vinha desgalhada em
vindima.
Ah Outono! Desconhecido no meu país
de claridade
Onde o Sol, destemido, campeia
sobre mar e ilhas,
Enrolando ondas, soprando brisas,
aspergindo sal…
E a bruma é peneira da força do
ozono a filtrar raios.
Se
para lá, pássaros sem bilhetes, partiram em voo,
Carrapatindo em carracas de calor e mares de
atração;
Aqui
deixam a melancolia esvaziar a melodia dos
campos,
Que
exuberam a roxidão que só cativa a triste paixão.
Amália
Faustino
19
Outubro de 2017
Sem comentários:
Enviar um comentário