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sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Não o reconheci

Não o reconheci

 

Eu já não o reconheço!!!

O que era ou foi já não parece

Não vejo restos daquele indivíduo pacato

De braços caídos

Ombros encurvados

De aparência pacífica

Até nos passos lentos

De pegadas bem marcadas

No chão de terra batida

De achada de Bacio…

 

Esse indivíduo já não existe

Ou já não o reconheço.

 

Agora vejo um anoso adolescente

Num côncavo peito de fios brancos,

Exibido num propósito desabotoado

De costas convexas,

Destacando, num pescoço alongado,

Um toutiço cavado  por cheias

De suor, cravando vias do tempo,

Sem dar fé da urzela da face,

A contrastar com a negrura

Que cobre um crânio pintado…

 

Brotando raciocínio acidentado

Ou tremido como uma vara verde,

Deambula entre catorzinhas

Numa sensação esperançosa de viço,

Resvalando no contexto juvenil

Umas calças atadas às perninhas

Penduradas em cintos de nádegas

Deixando sobrar quartos no solo.

 

Oh! Que gestos de visão desajeitados

Consertados a pedradas na ilharga,

Valeu-lhe uma reformatação a gesso,

Sobrado num andar de tamarindeiro

Num cutelo exposto ao vento!

Oh! Por isso é que não o reconheço

Não me parece indivíduo do seu tempo,

Que consegue declarar seis décadas!

 

Setembro de 2011

 

 

O mal em triunfo

 

Numa noite fresca assobiava na face fria

De cabelos grisalhos sob o vento leste

Num Janeiro quase Dezembro que corria

Passados minutos no seu primeiro teste.

 

Entro na fase da prova de beliscar,

Experimentar se vivo verdadeiramente,

Se em triunfo estonteante a mordiscar.

Ou morto selecionado, potencialmente!

 

Se outros não tiveram a sorte de passar

Uma nova estação que os espera abraçar

Em nada se assemelha a esta realidade

Em que se teima na escassez de piedade.

 

A bondade mitigada no ódio e na inveja,

Exibindo seus dotes cínicos que se veja,

Brota-se do âmago crónico a impiedade

Concorrendo com estigmática raridade.

 

E pergunta-se ao seu augurado detentor

Se do ódio, da vingança é obreiro ou autor,

Por que não redimir as incorreções do ser

Gerando outras aparências sem parecer?

 

Suprindo as carências que urge socorrer,

Necessidades ocultadas, ou a concorrer,

Ao lado de pobrezas coloridas a bramir,

Mugem as portas da vida a suprimir.

 

Amália Faustino, 2 de Janeiro de 2011

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