Pesquisar neste blogue

sexta-feira, 2 de junho de 2023

GUBEYA

 

Registo Gubeya

 

É mais uma vez inoportuno. Estava eu a corrigir textos escritos.

- Não deves estar muito ocupada, ajuda-me aqui a esclarecer ao compadre. Toma aqui o telemóvel com o pedido dele, e responde-lhe.

Como sempre quer ser reconhecido como bom da fita, aquele que ajuda os outros. Mas a mim oculta-me na invisibilidade e ainda exige imediatismo, obriga-me a fazer-lhe o serviço, fazendo-me interromper sempre o que quer que eu esteja a fazer, seja meu benefício pessoal, minha necessidade ou mesmo que seja algo bom para nossa família ele nunca valoriza.

Sarcasmo violento é ele ir procurar prazer a comer ou outro, quando ele me pede para lhe fazer qualquer coisa. Ele desloca-se arrastando os chinelos, nem presta atenção para aprender ou compreender, visando manter-se dependente negativo.

Desta vez foi ridículo demais: entregou-me o telemóvel e desapareceu. Li a mensagem do compadre que pedia informação sobre a morada para o preenchimento de um formulário. Entendendo que se tratava de caixa postal, dados que em Cabo Verde não existe, apresentei a sugestão 0000-000 NA e enviei a mensagem, identificando que era eu a escrever no telemóvel de Gubeya.

Ia retomar o meu raciocínio, depois de o desviar a limpar o chão para me acalmar. Ele pegou o telemóvel e viu a mensagem, chamou-me.

              - Aqui está a folha do formulário. Isto não deve ser assim. Deve ser que ele quer o meu endereço de Portugal e não o dele.

              - Estar a ver que na verdade só me interrompes para me atrasar no que eu faço? Tu não sabes o teu endereço para enviar ao compadre? Afinal não era necessidade nem dúvida que tinhas, é preguiça mental que te impede de me deixar alguma folga para fazer outras coisas. Não deves explorar-me ininterruptamente. Dá-me algum espaço.

              - É que eu não sabia, tinha duvidas trouxe-te para lhe esclarecer.

              - tu pedes a mim tudo que deve ser pensado com cabeça. Nunca despendes energia para raciocinar sobre nada, porque pensar cansa.

              - Ah não!!! Assim me ofendes. É que eu não tinha lido a mensagem do compadre, nem tinha o formulário comigo. Agora já percebi.

E começou a responder ao compadre, pedi para apagar as minhas palavras na mensagem do seu telemóvel. Estavam já apagadas.

Entrei no escritório para tentar retomar o trabalho. Lá veio ele de novo interromper:

              - Olha aqui no meu cartão – qual dos dois é número de identificação, o de cima ou o de baixo?

              - Tu nunca deste o teu número a nenhum serviço? Qual tu deste? Credo! Tu és mesmo mau!!! Não me deixas fazer nada que tenciono, nem mesmo o que tu devias fazer e nem pensas nisso. Preciso responder a emails e mensagens ao negociante que tu me impingiste.  Tu avançaste no negócio com o homem e agora andamos às voltas, nem raciocinas sobre o que de bem tens a fazer., nem me afrouxas a pressão sobre o cérebro. E o homem chama para o meu telemóvel, exigindo resposta e foi meu dinheiro que dei como sinal. 08:08

24 de maio

Desnorteado, surge na porta do quarto dela, onde se encontrava estendida na cama de computador sobre a barriga a escrever. Avança um pouco e espreita mais a dentro e pergunta:

              - Onde foste esta noite? Foste a algum sítio nesta noite? - afastou-se e dirigiu-se a porta do seu quarto, mas ouviu.

              - Cuidado com a cabeça ! – alertou-lhe ela.

              Não parava de atravessar o corredor comum aos dois quartos, com vontade explícita de analisar o que se passava no computador da companheira com que partilhava o apartamento e não resistindo o suficiente o impulso de provocação, espreitou de novo para dentro do quarto dela, perguntando:

              - Porque fechaste a máquina que pus a lavar e encontrei parada?

              - Eu estou continuei neste sítio em que me encontrava.

              Ele entra para o seu quarto de novo, sem encontrar justificação para perpetrar a agressão que lhe dá vontade e faz.  

              Entretanto demora uns minutos no quarto e volta ao corredor, deixando a porta aberta, donde desempacota o cheiro a sujo que lá permanece sempre. Algumas peças ou utensílios, que lá se encontram, têm a missão de reprodução contínua de necrófagas. Essas não as pode remover do lugar onde se deita e também ocorrem encontros entre seres invisíveis, mas audíveis.

Sem comentários:

Enviar um comentário