Registo Gubeya
É mais uma vez inoportuno. Estava eu a corrigir textos
escritos.
- Não deves estar muito ocupada, ajuda-me aqui a esclarecer
ao compadre. Toma aqui o telemóvel com o pedido dele, e responde-lhe.
Como sempre quer ser reconhecido como bom da fita, aquele
que ajuda os outros. Mas a mim oculta-me na invisibilidade e ainda exige
imediatismo, obriga-me a fazer-lhe o serviço, fazendo-me interromper sempre o
que quer que eu esteja a fazer, seja meu benefício pessoal, minha necessidade
ou mesmo que seja algo bom para nossa família ele nunca valoriza.
Sarcasmo violento é ele ir procurar prazer a comer ou outro,
quando ele me pede para lhe fazer qualquer coisa. Ele desloca-se arrastando os
chinelos, nem presta atenção para aprender ou compreender, visando manter-se
dependente negativo.
Desta vez foi ridículo demais: entregou-me o telemóvel e
desapareceu. Li a mensagem do compadre que pedia informação sobre a morada para
o preenchimento de um formulário. Entendendo que se tratava de caixa postal,
dados que em Cabo Verde não existe, apresentei a sugestão 0000-000 NA e enviei
a mensagem, identificando que era eu a escrever no telemóvel de Gubeya.
Ia retomar o meu raciocínio, depois de o desviar a limpar o
chão para me acalmar. Ele pegou o telemóvel e viu a mensagem, chamou-me.
- Aqui
está a folha do formulário. Isto não deve ser assim. Deve ser que ele quer o
meu endereço de Portugal e não o dele.
- Estar a
ver que na verdade só me interrompes para me atrasar no que eu faço? Tu não
sabes o teu endereço para enviar ao compadre? Afinal não era necessidade nem
dúvida que tinhas, é preguiça mental que te impede de me deixar alguma folga
para fazer outras coisas. Não deves explorar-me ininterruptamente. Dá-me algum
espaço.
- É que
eu não sabia, tinha duvidas trouxe-te para lhe esclarecer.
- tu
pedes a mim tudo que deve ser pensado com cabeça. Nunca despendes energia para
raciocinar sobre nada, porque pensar cansa.
- Ah não!!!
Assim me ofendes. É que eu não tinha lido a mensagem do compadre, nem tinha o
formulário comigo. Agora já percebi.
E começou a responder ao compadre, pedi para apagar as
minhas palavras na mensagem do seu telemóvel. Estavam já apagadas.
Entrei no escritório para tentar retomar o trabalho. Lá veio
ele de novo interromper:
- Olha
aqui no meu cartão – qual dos dois é número de identificação, o de cima ou o de
baixo?
- Tu
nunca deste o teu número a nenhum serviço? Qual tu deste? Credo! Tu és mesmo
mau!!! Não me deixas fazer nada que tenciono, nem mesmo o que tu devias fazer e
nem pensas nisso. Preciso responder a emails e mensagens ao negociante que tu
me impingiste. Tu avançaste no negócio
com o homem e agora andamos às voltas, nem raciocinas sobre o que de bem tens a
fazer., nem me afrouxas a pressão sobre o cérebro. E o homem chama para o meu
telemóvel, exigindo resposta e foi meu dinheiro que dei como sinal. 08:08
24 de maio
Desnorteado, surge na porta do quarto dela, onde se
encontrava estendida na cama de computador sobre a barriga a escrever. Avança
um pouco e espreita mais a dentro e pergunta:
- Onde
foste esta noite? Foste a algum sítio nesta noite? - afastou-se e dirigiu-se a
porta do seu quarto, mas ouviu.
- Cuidado
com a cabeça ! – alertou-lhe ela.
Não
parava de atravessar o corredor comum aos dois quartos, com vontade explícita
de analisar o que se passava no computador da companheira com que partilhava o
apartamento e não resistindo o suficiente o impulso de provocação, espreitou de
novo para dentro do quarto dela, perguntando:
- Porque
fechaste a máquina que pus a lavar e encontrei parada?
- Eu
estou continuei neste sítio em que me encontrava.
Ele entra
para o seu quarto de novo, sem encontrar justificação para perpetrar a agressão
que lhe dá vontade e faz.
Entretanto
demora uns minutos no quarto e volta ao corredor, deixando a porta aberta, donde
desempacota o cheiro a sujo que lá permanece sempre. Algumas peças ou
utensílios, que lá se encontram, têm a missão de reprodução contínua de necrófagas.
Essas não as pode remover do lugar onde se deita e também ocorrem encontros
entre seres invisíveis, mas audíveis.
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