Pesquisar neste blogue

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Devolver o verão a Cabo Verde

 

Vim de Cabo Verde, estou aqui em Boston,

Querendo sentir o Outono a desgrudar o verão

E devolvê-lo à procedência, em Cabo Verde

- Esse país possuidor de íman que atrai e fixa.

 

E meu espírito vagueia pela cidade de Paris,

Rastejando por Nice, percorrendo Burela

Saltando Braga, Lisboa por aeroporto de Portela;

E aqui observo o Outono, água e chafariz!

 

Por minhas paragens, a chuva vagabunda não abunda

Brumas e lestadas chicoteiam as águas merecidas

E gotas soltam e caem, miseráveis nas terras ávidas

Amedrontadas e bravas lançam-se no Atlântico.

 

Estar aqui, em Boston ou Lisboa dá na mesma!

Vejo deportar passarinhos de penas pesadas

A fugir do frio para caracas quentes de lá

Ao sentirem o Outono embrulhando Sol e água.

 

Aqui e nas outras cidades o TUDO é demais:

Muito Sol que pode abrir qualquer tipo de fogo

Sobre gente que acolhe água de desastre,

A faltar tudo no meio da abundância e desafogo.

 

Agora contemplo o Outono a pintar a aguarela,

Depenando árvores caducas, decorando o ambiente

Com plantas esqueléticas, folhas de agonia multicolor;

E como tudo isso é alegria de experiência ausente!


 

Vejo uvas e castanhas roxas, com paixão interior

Gente carrancuda marinada no vinho novo

Bebida de uvas espremidas com pés descalços,

Fartura da vinha desgalhada em vindima.

 

Ah Outono! Desconhecido no meu país de claridade

Onde o Sol, destemido, campeia sobre mar e ilhas,

Enrolando ondas, soprando brisas, aspergindo sal…

E a bruma é peneira que força o ozono a filtrar raios.

 

E para lá, pássaros sem bilhetes, partiram em voo

Rumo a carracas de mares que brotam calor e atração;

E aqui, a melancolia esvaziou a melodia dos campos

Exuberando a roxidão que só inspira a compaixão.

 

Amália Faustino

19 Outubro de 2017

Sem comentários:

Enviar um comentário