Pesquisar neste blogue

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Silhuetas na escuridão

 

Silhuetas na escuridão

Acordo em sobressalto às doze e doze,

Escutando o brik-brak duma chuva doce

A dar brindes ao vento que descose

As costuras do meu telhado, a coice!

 

Levantei-me, fui à janela para a olhar lá fora

O que rolava, o que se via, ouvia ou movia!

Era a escuridão pintada a luzes que bramia,

Como uma aguarela lançada do alto, em desforra!

 

E vi, projectados na escuridão, dois vultos

Que relâmpagos intermitentes iluminavam

Ao compasso de trovões que ribombavam,

Desabotoando camisas do céu, bem afoitos.

 

Em direção a mim moviam silhuetas desiguais,

Como dois amigos fantasmas, em abraços habituais,

Navegando sob águas e ventos de forças potentes!

Era porque um temporal  os desabrigou das pontes.

 

Bem encharcados em paridade, o cão e o dono,

Expulsos de seus abrigos pelas cheias e correntes

Fugitivas enxurradas roubadas aos montes

Nestas horas, tentam ocultar certo abandono.

 

Amália Faustino Mendes, 18 de dezembro de 2013

Sem comentários:

Enviar um comentário