Silhuetas na escuridão
Acordo em sobressalto às doze e doze,
Escutando o brik-brak duma chuva doce
A dar brindes ao vento que descose
As costuras do meu telhado, a coice!
Levantei-me, fui à janela para a olhar lá fora
O que rolava, o que se via, ouvia ou movia!
Era a escuridão pintada a luzes que bramia,
Como uma aguarela lançada do alto, em desforra!
E vi, projectados na escuridão, dois vultos
Que relâmpagos intermitentes iluminavam
Ao compasso de trovões que ribombavam,
Desabotoando camisas do céu, bem afoitos.
Em direção a mim moviam silhuetas desiguais,
Como dois amigos fantasmas, em abraços habituais,
Navegando sob águas e ventos de forças potentes!
Era porque um temporal
os desabrigou das pontes.
Bem encharcados em paridade, o cão e o dono,
Expulsos de seus abrigos pelas cheias e correntes
Fugitivas enxurradas roubadas aos montes
Nestas horas, tentam ocultar certo abandono.
Amália Faustino Mendes, 18 de dezembro de 2013
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